quinta-feira, 22 de maio de 2008

em qulquer lugar!

musseque, periferia angolana
que seque, feria angola
sequela

Como diz Racionais Mc's: "Periferia é Periferia, em qualquer lugar" ..em qualquer tempo..
começando as atividades nesse espaço..vai dois poemas de mestres angolanos..

Antônio Jacinto


Monagamba



Naquela roça que não tem chuva

é o suor do meu rosto que rega as plantações;





Naquela roça grande tem café maduro

e aquele vermelho-cereja

são gotas do meu sangue feitas seiva.





O café vai ser torrado,

pisado, torturado,

vai ficar negro, negro da cor do contratado!





Negro da cor do contratado!





Perguntem às aves que cantam,

aos regatos de alegre serpentear

e ao vento forte do sertão:





Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?

Quem trás pela estrada longa

a tipóia ou o cacho de déndén?

Quem capina e em paga recebe desdém

fubá podre, peixe podre,

panos ruins, cinqüenta angolares

porrada se refilares?





Quem?





Quem faz o milho crescer

e os laranjais florescer

— Quem?





Quem dá dinheiro para o patrão comprar

máquinas, carros, senhoras

e cabeças de pretos para os motores?





Quem faz o branco prosperar,

ter a barriga grande — ter dinheiro?

— Quem?





E as aves que cantam,

os regatos de alegre serpentear

e o vento forte do sertão

responderão:

Monangambéée...





Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras

Deixem-me beber maruvo, maruvo

e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

Monangambéée...


Agostinho Neto
Noite

Eu vivo
nos bairros escuros do mundo
sem luz nem vida.

Vou pelas ruas
às apalpadelas
encostado aos meus informes sonhos
tropeçando na escravidão
ao meu desejo de ser.

São bairos de escravos
mundos de miséria
bairros escuros.

Onde as vontades se diluíram
e os homens se confundiram
com as coisas.

Ando aos trambolhões
pelas ruas sem luz
desconhecidas
pejadas de mística e terror
de braço dado com fantasmas.

Também a noite é escura.

Remetido por
Fernando Antonio da Costa Vieira
fermavieira@uol.com.br
Página inicial do Jo
poesias tiradas do site - http://www.secrel.com.br



terça-feira, 20 de maio de 2008

cade o doce?

ai vai um escrito espontâneo

caldo cana vai saindo o melado
minha alma não vendo nem fiado
mal pago pagado pagão é meu sermão
deitado na rua no asfalto ainda quente
do sol da chuva babilônia dormente
sem freios receios não creio no seu jogo
sem rosto um fosso amargo cresce o lodo
goroto meninu piá já tá sabendo
que o troco num é barato,
a dureza é de graça
e o doce...
vem na marra!