quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sabor

ter o dom de olhar e ver
o que se esfumaça na retina
perceber que certas coisas
devem ser feitas
em horas certas
pois depois
palavras e gestos
por mais manifestos
escarlates e possessos
que sejam
nada conseguem
além de uma boa dose de indiferença

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

lunch time

existem horas que são de fermento
incham com pequenas bolhas de vento
o momento que antes seria pão sírio
dissipa o martírio do esgotamento
são capazes de tornar tenazes
tempos dissolvidos
vale um um banho de rio
em um vale tardio
sem precedentes
feito pelo tempo dos entrechoques
dessa água rasa e lacrimosa
vindos dos seus olhos rosa
cansados de nadar sem proteção
suspensão dos papéis
peço armistício
dessa batalha velada
cubra-se com esse véu
de fartura intensa
e microscópica

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

passeio

na ponta do fio
dos dedos estalados
bambos, estratificados
seguro pela espinha dorsal
com um espinho na guela
etinerante instante
moradia ambulante
de espírito solto
envolto por um céu tarde
esporado por sonhos
de crina longa e sedosa
impõe o equilíbrio dinâmico
onde peixes voam alados
levados por ventos do leste

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

de-me seu soul
groove movement
blues, seja o que for
seja voce
comigo
abrigo
é bom ter
consigo
não vá tão longe
ou vá
mas deixe seu gosto
amargo e doce
no meu rosto
com gesto inqueto

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

gotas

ah..quem se importa
amanhã estarei aqui
como você
e o mundo não acaba
talvez em 2012
acaba a cada dia
em qualquer esquina
ali
e surge sempre
uma nova fenda
prenda minha
não se assuste
esquecemos o manual
basta saber
o que fazer de manhã
gotas de sabor
caídas do céu particular
nuvens de desenho
prontas para desabar
seu líquido
ir de rio a rio
e evaporar

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

viagem

sem vista para o mar
mas bate um ventinho
se esbaldar já não pode
toma essa caneca
senta aí nesse cascalho
aproveita
pega o busão ali
enquanto espero o meu
ah, vou de churras grego
suco grátis
sem pensar não amarga
é melado
meu suor me liberta
quando seca na camisa amassada
e forma uma crosta protetora
uma casca laboral
que me isola de meu pensamento indigno
maligno
facílimo e dormir nesse banco
no balanço
no tranco
estanque

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

sanha sua

sei amanhã o que deixei
provo do gosto presente
palavra que não se sente
não se transforma
forma o ser
se faz crer em si
inscrever sua insignia
compor a ginga
para depois de amanhã
com uma sanha sua
sonhar, de dentro pra fora
embora muito embora
algo no seu mundo se ressente
as vezes chora
e se fortalece
sem saber

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

medalha

de compromisso eu digo
respeito
sem ou com sentido
com você e seus limites
esquisitices de amor
jogar-se
chocar-se
sem protetor
com dor
mesmo
como dizia Itamar
dor elegante
portá-la
como medalha
uma navalha
abrindo fendas mágicas
buracos negros
deixando escorrer entre os dedos
seu líquido etério

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

maré

o mar indiviso
abraça minha solidão
maré minha amante
é o que preciso
soluça ao meu ouvido
ondas de verão
amar de água salobre
mergulho em seu interior
sobre seu calor de corpo líquido
em uma noite morna
acordo por cima do mar
deixo-me ser capturado pelos rodamoinhos
e não mais vejo a terra
mar de maré marinha
amor sem correntes
ensina seu viver
aprendo o navegar
de suas águas incríveis

domingo, 13 de setembro de 2009

Seu tênis ainda era furado, de tanto manobrar o skate. Os pés eram outros: maiores, com formas mais definidas e mais calejados. Pensou que deveria ter o skate nessa hora, pra sair deslizando no manso asfalto, rasgar sua superfície e ir direto em slides inetrmináveis ladera abaixo. Mas seus pés eram sua casa nesse momento. Queria transpor o tempo, ocupar o espaço, dissolver-se na fumaça invisível e se tornar o próprio ser urbano, humano e divino. Essa era sua hora, 19 hrs, lua cheia, bares cheios. Gritos, reavivando a vida, olhares cúmplices, palavras conjuntas. Nesse solo sabia caminhar, rodopiar e manobrar seus receios. Lembranças tantas que não se apagam, que se esquecem no calor da fala, mas as compõem ao mesmo tempo. Não queria esquecer Marcelo que seu elo com a vida se iniciou como um solo de cello, vindo da ampla gravidade para a mais doce melodia. Queria saber quem era, pra poder saber o que se é, o que não se deve perder.
Marcelo chega na roda de amigos:
- Ohhh muleque, demorô nessa caminha da hein! Chega junto que o Dinho ta contando uma história...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ele continuou a caminhar, saído do escritório. E aquela sinestesia fixa daquilo que parecia uma lembrança, mas era a realidade. Caminhar era sua saída, sua guarida. Motos saltavam entre os automores, habitados por pedestres de folga. Pesdestres ativos caminhavam como ele, saídos de seus trabalhos.
A pouco tempo atrás ele engoliu a própria voz, de um mudo grito que ecoou em todo seu organismo. Ele viu sua própria imagem quando criança, o tênis de furo no dedão e a unha suja de terra. Viu sua lágrima tocar o chão do quintal, e o cachorro matando sua sede como tão denso líquido. Ele viu o que ele via nesse dia, de aperto torcido no peito imberbe, que por desleixo ou liberdade vinha nu. Ouviu sobretudo os passos na sala, que como batestaca que força a fundação, fundou a dor que repuxou seu pensamento. Foi o dia de seu nascimento, seu encontro com o desencontro.
- Não vou parar - Marcelo pensava - se esse sou eu, não tenho medo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

cello

Apreciava deitar na calçada e olhar a luz das estrelas. Elas revolviam-se com cadência, mais pelo efeito do alcool que por alguma propriedade física. Seu corpo dormente sentia o intenso respirar, o movimento repetido e ritmado do tórax coberto por uma camiseta preta. Ouvias os sons que conhecia de cor. As vozes exaltadas em cacofonia, provavelmente expondo teorias conspiratórias, amores idos e vindos, a paixão do viver. Caí um copo no chão, passa uma moto a milhão, e ele embaixo das estrelas.
- Marcelo! – grita um rapaz em uma mesa próxima à rua – Levanta daí!! Tá em algum tipo de transe?
Marcelo levanta a cabeça, interrompido pela voz forte. Olha para o sorriso gratuito de seu amigo - Não viaja não mano...to entrando em sintonia com meu eu superior, perdido em outros cosmos...
Nem se lembra de algumas horas atrás, fatídicas horas passadas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

ida e volta

vagarosamente se instala
estranha sensação
proveniente do interior
dispara como bala sem rumo
insumo da vigília
consome o tédio
esquiva-se dos sacrilégios
dos risos sérios
insinceros
invenção criativa
que reinventa a ida
o dia e a volta
e de noite
é hora de colher os frutos
ser um deles
cambaleando pelos caules
sem males algum
frutificar

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

e(u)goist(a)

finge não ligar, não querer
tão bem que eu acredito
e quando não mais distingo
se aquela pessoa é você
tudo no mundo muda
não quero ser do contra
apenas me conta
sem rodeios e receios...
na real, não fale
não diga
repita seus atos,
suas caras e bocas
seu hábito
silencioso hálito
que eu sumirei
como num passe de mágica
você estará com você
só pra você

sexta-feira, 24 de julho de 2009

pentágono

o coração do problema
nenhuma cabeça descobre
pesar no pensar
vida como emblema

tempos difíceis
nós em nós
olhos sensíveis de olhar
quando está a sós

lá fora é chuva
dentro cinzas
além, quem sabe?

sábado, 4 de julho de 2009

notas vagas

resolvi cantar quando estou só
assim, se num solo atrevido for ouvido
e esquentar ou acariciar um ouvido
talvez possa juntar as notas
se a dor é tamanha
de imaginar o peso do mundo nas costas
se assanha um louco desvario
um cego arrepio de calafrios dar no corpo
o consolo de um ombro sereno
que absorve o excesso
remove o abscesso
de um peito doído do mundo

segunda-feira, 29 de junho de 2009

dito pelo não dito

do osso e da carne
matéria de jornal, disfarce
do couro e do pêlo
superfície de estranho relevo
couraça imagética
nem de longe transluz o enlevo
nome que não apelida
que não ginga no perigo do limiar
busca guarida na substância
que de pronto deslocamento e pujança
trança as pernas e a si mesmo engana
sana e convence o escaramuço aporte
que não há importe no suporte
se o zelo e o elo não for forte
dito pelo não dito
digo: sorte daquele
que vive a palavra
que em cada momento
sem constrangimento
forma a frase com o corpo e a fala
e que depois ou durante
grafa a sílaba
ponte nata
que transpõe multidões e verões

terça-feira, 16 de junho de 2009

entoada

sobre expectativa
sob rigida vigia
a voz se eleva à estratosfera
em movimentos de fera
ferida, insana como iguana
ocupa o ambiente
sente-se à vontade
invade e toma conta
sem ponta corte de espada samurai
sem pena de tímpanos
se mostra
na língua dos deuses
abençoada
de gírias faladas transformadas vocabulário
armada aos dentes fala sem dicionário
expressa regressa ao constante início
princípio de tudo quando a voz era sopro
o silencio do rouco
o vento no outono
o monumento na praça
faz casa de si
renova sua força
mas uma vez voz

segunda-feira, 1 de junho de 2009

insensatez

do sincero contraditório vício
inepalpável sintonia
concretizada na presença
monotonia da ausência
de um ser sem nome
pois se funde no meu corpo
impregna o sobresubterrâneo
quando na noite invade meus retratos
meu armário e meu lençol
boca com piercing de anzol
fisgou ou foi fisgada
nada significa nada
é negação infinda
se você não está ao lado
no lado de mim
do meu peito

domingo, 3 de maio de 2009

sem nome

há sinal de vida
há saída?
aspas às palavras ditas
das vozes soterradas, diluídas
afagam a audição distraída
apreensão, compreensão
sílabas silenciosas
vidas encapsuladas à forma
emergem da terra com poros
correm o asfalto petróleo
povoam os instantes de olhares perdidos
bala sensível de olhar, perdida
distraída com a cena
tropeçou a vida
escancarou-se serena
às algemas, estratagemas
fechou o ciclo
dentro do esquema
sem problemas

segunda-feira, 27 de abril de 2009

ciclo da lágrima

encantos espasmódicos
esporádicos deslumbramentos
sentado à cadeira confortável
meus olhos flutuam no colírio
a carne ocular tão pura e sensível
ignora seu grande poderio
absorve o inatingível
reage com água levemente salgada
aclamada lágrima
silenciada por vozes interiores
busca seu espaço no mundo
imponentemente brota do globo
evapora e junta-se com suas irmãs e primas
numa grande nuvem
todas juntas destinadas a chocarem-se perpendicularmente
à suas antigas moradas

sábado, 11 de abril de 2009

amor em trabalho

trabalho
trabalho pra entreter
trabalho pra entender
viver pra trabalhar
trabalho pra esquecer
limpar, escrever, vender
sacanear, lecionar, governar
criar algo seu
destruir a obra alheia
trabalho
moeda de troca dos descamisados
de quem não manda
poder trabalhar é a glória
em tempos de crise, época sem história
avante a todos que suam os suor dos justos
expelido do corpo quente do trabalho
bustos de chefes invadem os sonhos
medonhos vozeirões em corpos sublimes
crime é faltar ao trabalho
o prejuízo é para os dois lados
eu como menos
eu lucro menos
deixem-nos trabalhar em paz
se possível for
a não ser que haja algo diferente
a inatividade é vilã da produção
a atividade é o contrapeso da ilusão
trabalhe se puder
se quiser
ame nas horas vagas

terça-feira, 7 de abril de 2009

conchego

suave beleza
inquietante pureza
tudo bem
admito
tu és o ébano
de copa majestosa
de frutos turquesa
com sementes venenosas
polpa inebriante
caminhos perdidos
percorrem minhas mãos
encontram a saída
em teus lábios aconchegantes
onde chego e fico

sexta-feira, 3 de abril de 2009

olho pela janela entreaberta
vislumbro a quantidade de raios que alimentam o filete de luz que escapa
seres radiosos revolucionam a casa dos deuses
enquanto aguardo no quintal
fusão luminosa
dos grandes reis do universo
com os grandes servos da galáxia
todos magnânimos com suas vozes onipresentes
deitado no chão da varanda sinto o estremecer do solo
os retumbes tombados ar afora
povoando meus ouvidos
que reúnem todos os sentidos
luzes que acariciam o imaginário
selam um inventário
da dor, calor
dos bens interiores
do espírito da (c)alma

terça-feira, 24 de março de 2009

separação

um raro caso de reflexão temos aqui
perguntas, umas atrás das outras
e o pior.. sem respostas
estas podem ser forjadas, inventadas
criadas ou copiadas
ao gosto do freguês ou adulto que se deparar
criança de tudo
esse pedaço de gente ignora seu poder de pensamento
que mora justamente nesse não saber
em ser despretenso, intenso e sem tensão
essas perguntas nos lembram sem piedade
amizade ou caridade
que às vezes nossos motivos são movediços
postiços ou quebradiços
não importa a ordem ou concomitância
mas a distância que podemos chegar
do nosso dom primordial

sexta-feira, 20 de março de 2009

apés

fumacê na cara
tô eu na rua
atrás do eixo perdido
gastando a sola
os olhos ressequidos
a mente à tona
milhas à frente
cadê aquele abraço quente
quando o frio era rei
o beijo fresco
rachando o mormaço do ambiente
do meu espírito
adormeço na fenda das lembranças
entre seus seios
tão seus
mas sinto os pés muito livres
querendo limites
querendo vapor
amor

quinta-feira, 19 de março de 2009

exploda-se!

Livre!
pra berrar, pra caçar e ser caçado
Liberto!
pra amar, pra chorar
raiva do caos desordenado
olhos no sangue da garganta seca
sem motivos a reclamar
nenhuma razão
as possibilidades são suas
Agarre-as! com unhas, dentes
mentes, corações e ilusões
Exploda! seus ossos serão guardados
Dissolva-se em música!
assim poderá ser ouvido
invada os poros geograficamente
os órgãos, de forma a chegar ao peito
leito onde repousa o músculo vital
sistola e diastola e ainda
tem o potencial de sentir

domingo, 15 de março de 2009

somos

CLOWN
brancura augusta
faustosa amargura do pequeno coração
estripulia delicada, espirro
julga fazer rir os lábios
faz incandescer a alma
percorre o eterno conflito
as duas faces
o domínio pelo riso
confunde a ilusão
esconde a dor
reencontra o início
quem não quer ser clown
sem saber que já é um?

sábado, 14 de março de 2009

mãos enroladas

trança que encanta em seu labirinto, como um mantra, une o corpo
solto que está, loco deixa a quem olha, como mar revolto
cá, em seu belo cabelo, as mãos com calos desperdiçam as horas
alisa ondulando, se aninha e consola, enrola o momento

segunda-feira, 9 de março de 2009

desvio da sombra

do analógico ao digital
do esquizofrênico ao espiritual
distâncias percorridas a passos largos
abismos rebentados por olhares vagos
o calor de produção artesanal
de afago irracional
palavras soletradas em tom matinal
provocam sombras que desviam em gotas ácidas
flácidas sentenças
em cadencia
decadência
indecente

domingo, 1 de março de 2009

fuga

insulto calado
indulto forçado
vício circuloso
de sonho insolúvel
rosto anguloso
que aprisiona
questiona, volúvel
se seus trejeitos são tão assim quanto digo
se sua rede é tão emaranhada quanto parece
carece não...
dissolvo meu tempo
o centro e as bordas
sem querer
escapo

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ir(R)a-dia-ação

O sol nasceu, parece que não nasci
Estou em estágio de banho-maria
em água fria
A cada minuto me aproximo mais do gelo
Vejo o calor contagiante do sol
que não me inocula
O que me incorpora é o inerte
Os espaços fora de mim são enormes,
Há vidas, feridas, misturas
Nada desperta minha atenção
Pareço sem armas nesse jogo
Nem mesmo do punho disponho
não sei usá-lo, ou ele se vira contra mim
Onde está minha alegria?
Talvez naquele lugar aqui dentro
onde nada é possível
sufocada sem ar
Mas agora o sol se esconde atrás das nuvens
E curiosamente senti sua falta

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

cicatriz

as palavras enganam
os pensamentos fogem do controle
transformando os sons em navalhas
como ferro quente, queima e cauteriza
a dureza que surge após o sangue
mantém o fio da vida

domingo, 15 de fevereiro de 2009

em lados

seus braços tem lados
me encaixo junto ao ventre
parede macia
quedado manso
faz dormir os barracos
os sons dos malacos
abraço acrobático
despretensioso
se tê-lo eternamente
a vida não seria vida
deixo estar aqui
fingindo não saber do amanhã

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Que Te Quero

Arnaldo Antunes

Compositor: Edgard Scandurra / Peter Price / Arnaldo Antunes


olho que te quero boca
pele que te quero aço
água que te quero sopa
perna que te quero braço

cama que te quero pedra
vidro que te quero caco
nuvem que te quero terra
água que te quero cactus

carne que te quero corpo
boca que te quero poço
peito que te quero rosto
pênis que te quero osso

boca que te quero poço que
te quero peito que te quero
rosto que te quero pênis
que te quero osso que te
quero osso que te quero osso
peito que te quero fonte que
te quero costa que te quero frente
que te quero língua que te quero
ponte que te quero dedo
que te quero dente

peito que te quero fonte
costa que te quero frente
língua que te quero ponte
dedo que te quero dente

língua que te quero teta
leite que te quero nata
loira que te quero preta
preta que te quero prata

prata que te quero ouro
couro que te quero vaca
água que te quero fogo
olho que te quero asa

couro que te quero vaca que
te quero água que te quero
fogo que te quero olho
que te quero asa que te
quero asa que te quero asa
casca que te quero polpa que
te quero unha que te quero
casco que te quero pano que
te quero roupa que te quero
crânio que te quero saco

casca que te quero polpa
unha que te quero casco
pano que te quero roupa
crânio que te quero saco
coxa que te quero colo
bolha que te quero calo
gota que te quero gole
poça que te quero lago

clara que te quero gema
sola que te quero palma
nome que te quero carne
carne que te quero alma

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

por quem?

abro os olhos
lua a pino
sol a caminho
manhã manhazinha
o corpo não quer
sem opções
olho ao lado
meu par
meu lar
a parte doce disso tudo
logo lá os pequeninos
ainda sonhando fantasias
caminhada longa à espera
um dia só
mais um
combustível?
nem petróleo nem álcool
táqui
logo aqui

domingo, 1 de fevereiro de 2009

vistemtempo ou o grande!

tempo que me guia
tempo que me alucina
tempo que anuncia
tempo que calcina
tens porquê de dizer
tem algo mais a me dizer?
ponha seus acentos
parta seus pedaços
pense ao correr
medite em seus rastros
apague os passos não pisados
tens razão em existir
pois só por ele tu és esse momento
meu encanto, meu tormento,
meu silêncio

sábado, 31 de janeiro de 2009

esquivo ao alvo

sem paradeiro certo, estrangeiro eterno
ao mesmo tempo um sentimento materno
o lugar e suas palavras e sons
imagens em cores e tons
e o pensamento nem sempre aí
vagueia por várias janelas
deixa algumas abertas outras tranca
e a escuridão das seladas
revira e recria a ansiedade
o impasse de ser possível ou não
a estátua da vontade
o desejo de ser mais do que se é
apenas a passagem pelas ruas
a calma de um céu morno flutua
algo a se acreditar, apesar de incerto
a incerteza age como amiga
grandiosamente briga
com o anseio de haver algo certo

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

melodia

aura se instaura no palavreado
estórias memórias
vivências carências
um lembrar solto
aquele sorriso
um outro
o início da origem
transborda
pinta, borda
discorda do tempo
logo ali se expõe
jóia rara
cara e sem preço
sentido por quem sabe
ouvir

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

insonhos

quero me transformar em teu seio
florear seus olhos com meios anseios
meus desejos que eu nem sei
flutuar no raso de teus lábios montes
fazer fonte de tuas mãos insones
e em tua voz reconhecerei então a sede
quem sabe estender meu corpo ao vento
e viajar no perene sonho de te ter