segunda-feira, 29 de junho de 2009

dito pelo não dito

do osso e da carne
matéria de jornal, disfarce
do couro e do pêlo
superfície de estranho relevo
couraça imagética
nem de longe transluz o enlevo
nome que não apelida
que não ginga no perigo do limiar
busca guarida na substância
que de pronto deslocamento e pujança
trança as pernas e a si mesmo engana
sana e convence o escaramuço aporte
que não há importe no suporte
se o zelo e o elo não for forte
dito pelo não dito
digo: sorte daquele
que vive a palavra
que em cada momento
sem constrangimento
forma a frase com o corpo e a fala
e que depois ou durante
grafa a sílaba
ponte nata
que transpõe multidões e verões

terça-feira, 16 de junho de 2009

entoada

sobre expectativa
sob rigida vigia
a voz se eleva à estratosfera
em movimentos de fera
ferida, insana como iguana
ocupa o ambiente
sente-se à vontade
invade e toma conta
sem ponta corte de espada samurai
sem pena de tímpanos
se mostra
na língua dos deuses
abençoada
de gírias faladas transformadas vocabulário
armada aos dentes fala sem dicionário
expressa regressa ao constante início
princípio de tudo quando a voz era sopro
o silencio do rouco
o vento no outono
o monumento na praça
faz casa de si
renova sua força
mas uma vez voz

segunda-feira, 1 de junho de 2009

insensatez

do sincero contraditório vício
inepalpável sintonia
concretizada na presença
monotonia da ausência
de um ser sem nome
pois se funde no meu corpo
impregna o sobresubterrâneo
quando na noite invade meus retratos
meu armário e meu lençol
boca com piercing de anzol
fisgou ou foi fisgada
nada significa nada
é negação infinda
se você não está ao lado
no lado de mim
do meu peito