segunda-feira, 27 de abril de 2009

ciclo da lágrima

encantos espasmódicos
esporádicos deslumbramentos
sentado à cadeira confortável
meus olhos flutuam no colírio
a carne ocular tão pura e sensível
ignora seu grande poderio
absorve o inatingível
reage com água levemente salgada
aclamada lágrima
silenciada por vozes interiores
busca seu espaço no mundo
imponentemente brota do globo
evapora e junta-se com suas irmãs e primas
numa grande nuvem
todas juntas destinadas a chocarem-se perpendicularmente
à suas antigas moradas

sábado, 11 de abril de 2009

amor em trabalho

trabalho
trabalho pra entreter
trabalho pra entender
viver pra trabalhar
trabalho pra esquecer
limpar, escrever, vender
sacanear, lecionar, governar
criar algo seu
destruir a obra alheia
trabalho
moeda de troca dos descamisados
de quem não manda
poder trabalhar é a glória
em tempos de crise, época sem história
avante a todos que suam os suor dos justos
expelido do corpo quente do trabalho
bustos de chefes invadem os sonhos
medonhos vozeirões em corpos sublimes
crime é faltar ao trabalho
o prejuízo é para os dois lados
eu como menos
eu lucro menos
deixem-nos trabalhar em paz
se possível for
a não ser que haja algo diferente
a inatividade é vilã da produção
a atividade é o contrapeso da ilusão
trabalhe se puder
se quiser
ame nas horas vagas

terça-feira, 7 de abril de 2009

conchego

suave beleza
inquietante pureza
tudo bem
admito
tu és o ébano
de copa majestosa
de frutos turquesa
com sementes venenosas
polpa inebriante
caminhos perdidos
percorrem minhas mãos
encontram a saída
em teus lábios aconchegantes
onde chego e fico

sexta-feira, 3 de abril de 2009

olho pela janela entreaberta
vislumbro a quantidade de raios que alimentam o filete de luz que escapa
seres radiosos revolucionam a casa dos deuses
enquanto aguardo no quintal
fusão luminosa
dos grandes reis do universo
com os grandes servos da galáxia
todos magnânimos com suas vozes onipresentes
deitado no chão da varanda sinto o estremecer do solo
os retumbes tombados ar afora
povoando meus ouvidos
que reúnem todos os sentidos
luzes que acariciam o imaginário
selam um inventário
da dor, calor
dos bens interiores
do espírito da (c)alma