quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Não diga nada

quieto e bom
o silêncio
dizem que é prece
não pediu pra nascer
e teima em sobreviver
grande o desafio de preenchê-lo
sem rasgar sua aura sagrada
sem deixar para trás um sem número de possibilidades
em ouvir ondas impercepitíveis
juro que prestarei mais atenção nessa dádiva
de tão barata que é
vive espancada
pela torrente calculada
dos meus pensamentos
silenciar é trégua
léguas em milhas distantes
relva orvalhada
repleta de esterco fresco
um terreno fértil
propício a enterrar-me
escondendo os distúrbios
dissabores e notas dissonantes

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

um dia

A culpa pelo que não foi feito
disseca a vontade reprimida
no caminho para o entendimento
crateras submergem no rio de verdades
formam-se piscinas de angústia
povoadas com afazares prosaicos
essenciais para a manutenção da sobrevivência
esquecer um gesto no fundo do bolso
ou um olhar em cima da pia
ao lado do espelho
mantendo um caminhar obtuso
é império manter projeções e prospectos
um passo maior que a perna
uma perna maior que a vida
o guarda chuva ficou pra trás
ao lado do lugar reservado para gestantes
idosos, deficientes
défcit de tempo, sensibilidade
desses dias normais

sem mais por hoje

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

puz zles

que língua é a sua?
melosa e gosmenta?
branca pela ação de bactérias?
de trapo, de sapo, ou solta?
que língua é essa que você diz?
de ouvir o interior, superior
a voz uníssona da solidão
e liberdade?
a mensagem está criptografada
escondida por anagramas
sede pela vida?
da vila pede-se
dá-se! vide aple
faltou o l
para falar da maçã
resumo:
se existem palavras
desfaça-se delas
elas servem em momentos pontuais
mas saberá usá-las quando precisar
no mais
sinta

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

azimute



baixar a cabeça
baixar a guarda
armistício desse tiroteio
para o solstício de hoje
a febre indica que a defesa está ativa
mas ainda não estou convulso
bem vindo intrusos!
bárbaros de alma incólume
deixarei a febre arder meu raciocínio
mantendo o coração intacto
dantes parasitas inconsequentes
proponho a sombiose
nesse dia mais longo do ano
arraquem o que mais necessitam
encontrarei o azimute
a perfeita distância
que permite o convívio
serei destruído
e renovado pelas suas forças
quando se for o sol
restarão moléculas sincréticas
dispostas bem na linha de frente

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

meu pedaço

Filme da sexta: "Minha Terra, África" (White Material) - 2009



tosse os expurgos da violência
redime suas ideologias fracassadas
de uma existência quase santa
águas que explodem as comportas
e devastam o mundo erigido pelos anos
canta pela vitória do insensível
que deixa cordões de sangue pendurados
pendulando pelos campos
pelas terras
a destruição das coisas por um fio
e um sentimento de dejá vu
a posse, essa ferramenta perversa
do corpo, dos sentidos
do que pode ser nomeado
a posse só cessa quando a sede
é saciada, e depois
olhamos o campo, ele ainda resta
com suas fendas intermináveis

Dica para amanhã:

http://www.obaoba.com.br/sao-paulo/magazine/sobre-mostra-cinesesc-e-cinemateca

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

vales ou altos montes?




a tênue linha entre a coragem e o medo
a insegurança e a certeza
espírto e matéria
opostos aparentes
vencer a cada dia
dramaticamente
ou flutuando em nuvens

obviamente para nós mortais
o amor não aflora em todos eles
ou algo digno de destaque
não submerge a cada 15 minutos
mas a dúvida, essa parece imperar
com toda sua volatidade e patrio poder

a partir dela um pensamento gesta outro
forma-se rapidamente um formigueiro convulso
pela intervenção de um objeto externo
mas as vezes ela PUF! torna-se gasosa
observa pacientemente a paixão
a ira, as vontades loucas e certas
a certeza absoluta em sua matéria-prima

mas eis que ela sempre volta
revira e as vezes machuca
duvideodó que essa senhora indecente
abondone-me

Por via das dúvidas, guardo poucas certezas

Procure, se encontrar: um "Personal Jesus", de Depeche Mode por Johnny Cash

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

morrer por acaso ou por querer?







Segundo a OMS, do 1,6 milhão de mortes violentas registrado em 2000, 815 mil se deveram a suicídios, 520 mil a homicídios e 310 mil a conflitos.

Homem pelos ares! Helicóptero parado, é possível salvá-lo?
Dia de Saresp. Crianças e professores à espreita pela janela
confusão, intuição, inexplicação
Nossa vida, o que fazer dela?

"Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho"

Chico Buarque - "Paratodos"

"Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia" Albert Camus.

Acreditar em suicídio? Pode ter sido alguém que o empurrou.
Desafeto do passado.
Há a hipótese do escorregão..

"Lembra-te de que a porta permanece aberta. Não sejas mais medroso do que as criancinhas, mas faze como elas quando estão cansadas de seus jogos e gritam 'não brinco mais'; quando estiveres em situação similar, grita 'não brinco mais' e parte; mas, se ficares, não chores". Epicteto (55 - 135)

Essa semana esse tema atavessou meus dias. Hoje foi o caso mais real, do homem caído do conjunto habitacional. Filme "As Melhores Coisas do Mundo" na segunda, traz uma faceta dessa vivência intensa. E só ouço Elliot Smith, que não tem ao certo sua história contada, mas o ponto final seria um suicídio com S: duas facadas no peito. Suas músicas, um universo descoberto!

E um filme que ainda não vi: Control (2007)

"Viver é foda, morrer é difícil" Renato Russo

As cartas estão na mesa, o risco é eminente, ajuste seu jogo conforme entender.
A liberdade, tão perseguida e angustiante liberdade.

Citações retiradas da matéria de Hélio Schwartsman: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/781515-problema-insoluvel.shtml

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

encanto

Esqueço-me em ti, em teus olhos
Lembro-me de ti, em tua boca
Voo pelos ares no seu toque
junto com tuas pétalas, no ar, à toa
És indecifrável em tua beleza
Encanto que traz pranto
Silêncio que me leva a sorrir
A palavra amor, te amo!
O quanto? Tanto, no entanto
não o bastante para ti

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

perda imemorável

Não sei se posso medir
a perda que ontem tive
não sei bem o que foi
é difícil de lembrar
era algo como uma massa
um rolo de novelo
recordo que saltitou pelos pelos
atravessou a unha do pé
e escavou a terra até o manto
não sei bem dizer
mas parecia uma semente aberta
pelo golpe seco de um raio solitário
nascido de uma ira qualquer
sei apenas que depois disso
não consigo parar de pensar
que perdi algo

quem sabe esse algo
me ache
ou se afunde mais até o centro de tudo

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Micro ondas

micro aventuras pela capital
dois corpos ocupando o mesmo espaço
rixas entre braços
só o começo
a luta pelo horário
destino final: local onde se passa o dia
fazendo coisas
com ou sem sentido
mas que sustentam
risos, pra não ouvir choros
papel, função, tarefa, responsabilidade
o pensamento foge em lapsos
transporta a outros lugares
até a hora do: “hoje tá pago!”
jornada de volta
com ou sem algum paradeiro
de natureza acadêmica ou alcóolica
ou, outra opção nas horas que restam
se não estiver tão frustrado para amar
e tratar bem os chegados
como dizem uns, temos escolhas
gosto de pensar assim
apesar de sua face ilusória
ilusão, ou seja, desconexo com o real
com a luta, com o pisa-na-cabeça-do-desconhecido
para não perder o ponto
para não ter desconto
na contada remuneração
posso escolher
não me embrutecer por completo
embora não saiba
até quando será possível

terça-feira, 18 de maio de 2010

sem papo

Sabão
ecológico
sapólio
espólio
brasão
arranhão
profundo
tétano
metano
tétrico
vívido
vivido
vive-se

na medida
desmedida

rima boba
rima mansa
rema, balança
samba
serena

quinta-feira, 6 de maio de 2010

mero detalhe

quem sabe no que isso vai dar?
cortes, arranhões, arroubos de extases
labirintos flutuantes à espreita
múltiplas tentativas de sair da mesmisse
sincronizadas ao tédio organizado em planilhas
cuidado com as preces, elas podem se tornar realidade
ou já serem
e todas tem seu preço
seu risco
insisto e assisto a tudo
buscando um detalhe que falta

sexta-feira, 2 de abril de 2010

grades

Separado Inteiro
atrás das grades
VIVEIRO
geografia local a ser explorada
vasto pasto interno a ser ruminado
Cão vigia à espreita
estreita passagem entre a
coragem e o medo

segunda-feira, 1 de março de 2010

planos futuros



Passe amanhã

Certamente saberei o que fazer na sexta que vem
talvez tenha em mente uma idéia para preencher o tempo
caso venha a ocorrer um contratempo que impeça-me
de planejar o que farei sexta que vem
insights suicídas, espasmos mentais
magnitude magnética das negatividades
tudo isso pode ocorrer entre agora e amanhã
de qualquer forma, não deixe de passar amanhã
seria fatal proferir uma decisão assim
de sopetão, sem cogitar a possibilidade
de ter um dia para planejar a sexta que vem
claro, está aqui meu cartão
meu nome não é mais esse
tenho que encomendar uma nova remessa
mas o telefone é o mesmo
aguardarei sua ligação
perdoe-me o transtorno
certamente amanhã terei uma resposta

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

breu

pra que chorar
se podes rir até sentir caibras nos ossos
a certeza esta longe de ser decretada
os destroços sempre estarão à vista
e o motivo será o mesmo
desvios de sentimentos sentidos
insuficencia cardíaca de 1º grau
mudez repentina
causada pelo impacto
do descobrimento da semanna passada
o pão será o mesmo
duro de pedra
e a fatia da torrada
secará a gartanta como o deserto
impedindo que o grito de adeus
ecoe pelos espaço aéreo
segredo celeste
de-me astúcia para desmembrar o breu
em total desconehcido
que será familiar na semana seguinte

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

sombras

perdão meu sermão desarrumado
minha pretensa sabedoria
calculando a alegria, o respiro
minhas expectativas não anunciadas
a placa sem direção
e o descaso do acaso
perdão se meu calor te repele
queimando teus fios de cabelo
e as palavras desnecessárias
morrendo no desatento balbuciar
desculpe se matei seu tempo
horas esvaziadas pela presença
eu me perdoo
sem ressentimentos
pelo menos nessas linhas
tão tortas quanto meus pensamentos
e minha moral abalada
no reduto do insilenciados
sentenciados pelo perpétuo sentimento
de angustia
de se achar no direito de abstrair o concreto
e tomá-lo como certo
esquizofrenicamente se apoiar nesse modelo
pois é o único que foi capaz de gerar

essa sombra que flutuou ali
nada mais que seus pensamentos regurgitados
que escaparam sob o contradito
aprentam estranheza assim, longe da cabeça
sem uma montagem sequencial
assemelha-se aos sentidos
como calor, inquietude, desespero
formou uma face sem rosto
mas a sombra que espelha
parece uma lua desmembrada
ou um coração estatelado
partido em mil pedaços
pode ser também um animal novo
com nome ainda não catalogado
um bicho citadino
inclinado a ser um inseto
mas com mamas desenvolvidas
ainda poderia imaginar que essa sombra
por sua natureza fosse uma ilusão
um pressuposto da materialidade do pensamento

um borrão sem sentido
ou com o sentido perdido pelo desgaste
esgarçado pelas badaladas do sino majestral
que tudo rege e reage
nessas horas de minutos intermináveis
o casulo da racionalidade se rompe
formando um encandescente cometa
que arrasta todas as formulações
com suas fórmulas equacionadas
e o que se tem nas mãos é vento
polpa para os sortudos
quando o desconexo se instala
a vala do buraco negro logo ali
trata de botar ordem no chiqueiro
um buraco branco com alvo rastro
apaga tudo que se escreveu
pelo menos por um instante
deixando a terra lixiviada
ainda com resquícios de fertilidade
gotas de minérios depositam-se nos espaços vazios
a água ainda pode umidificá-la
não deixando-a tornar-se rocha
uma água que seja reciclável
vinda da vazante da represa
represálias a favor do reestabelecimento
da razão, ilusão, sentimento
de algo menos óbvio
que este falatório

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

entronco

Respiro o vento que derruba os muros
sacio a sede com o licor extraído dos corpos
fechado a vacuo por um sussurro
dos mortos infectados por sangue artificial
um bastardo sem estudo
abecedário vivido e decorado em real
imagem digital com mão de morsa
pratico minha comunicação morse sem aparelho
cavoco as unhas nos dedos tesos
dou sinais de quem recebe favores
terços de quatro faces, amores
é inesquecível tê-los
flutuar em sua espalda
contar os minutos de sua espada
fatiando a carne reconstuída
acreditando que ela se recomporá novamente
em células de tronco retorcido
sem caminho definido

domingo, 10 de janeiro de 2010

informa(l)

não se zangue
o errado só parece
a conjugação ou o verbo
o adjetivo substanciado
nas palavras leigas
leitosas e não menos espertas
de um guri
exibem algo de extremamente correto
engraçadas por vezes
proferidas enquanto mãozinhas vasculham tudo
o mundo objeto
e o sentimento que emanado
do bobo comentário
ou de um olhar perdido
certo que foram filmados
pelos olhos atentos
ganha uma xibiga se for ao médiculo
e depois tem tapettone pra comer
misturado com picoca
que mais se quer
quando se deve apenas expressar
sem pensar em forma?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

coisa sua

sabe aquela pessoa
que rossoa no eu
que sem ensaio
arranca aplausos da alma
faz chorar de alegria
substancia a palavra calma
é um cais nas águas sem sono
aquela mesmo que justifica o instante
e que quero povoando o porvir
amá-la é o mínimo
o indispensável
sorver de sua presença
é um gesto fino e simples
simplismente a admiro
ad infinito

sábado, 2 de janeiro de 2010

dois orifícios na cabeça

a terra que entrou em meus olhos
serve de substato para a seiva em meu cérebro
massa disforme potencialmente utilizável
se esse barro que se formou com a solução lacrimosa
permitir enxergar um palmo fora
um palmo dentro
dissipar a turvidão do fogo recém enxarcado
ultrapassar a camada de carvão em pó
se livrar das cinzas escondidas nas fendas
deixar que a terra faça seu trabalho
não só suje, mas crie
que traga a vida e abrigue a morte
dispare algo que transcenda
o imediato, o destrato
o trato diário
de não se olhar nos olhos
com medo de sujá-los