terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

invólucros




do som da manhã
assumo os ruídos exasperantes
dos imóveis vazios

à venda

o sangue está a prêmio
desde tempos
que tentei esquecer

ele se embrenhou
nas frestas do piso
entre os olhares retidos

um visgo

um risco

invento a liberdade
num suspiro prolongado
de sacada

tudo construído
na medida exata
do desencontro

os acomodados que se espalhem
em seus cômodos
invólucros
de dores latentes
e espamos de vida
nos entreatos 


domingo, 24 de fevereiro de 2013

Além de fevereiros



O que quero vai além de fevereiros
Passa os meses de setembro
e tomba os 31 de dezembro
O desejo rompe as rédias curtas dos dias
e cavalga soberbo pelas paragens
Vai a jato, meio de lado
Deixando o rastro desigual
Um enigma a ser seguido
Uma teia de nós invisíveis

O que quero vai além de quereres
Pois não é o óbvio
dado
Está enodado entre o agora e
o ontem
Uma mistura de armistício
e declaração
Do toque supremo de lábios
À força desproporcional
do sexo

A pressa dissolve-se
no fim de dia que se avizinha
Encontrando a noite
parceira insone

dá as mãos a sua musa
encosta o ventre em seu colo
e parte para um novo hoje
a dois
mutante
em frente

sábado, 16 de fevereiro de 2013

uns outros


Outro
etário ou precário
parte do erário
perdido no complexo viário
otário para alguns
eterno para alguns outros
estóico ao frio
melancólico ao sol
um inferno
ou a última chance
de vida

provável
meu caro
que por mais amargo
que se possa ser
só o será
por ceder ao amparo
do outro

por isso
tudo bem
outros outros virão
outros ficarão
e o si próprio
o outro-mesmo predileto
restará





sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

inundação


Nas pedras da costa
escorreguei
Os pés não se firmaram
inundados pelo vazio
Da entrega

Os sons da noite
a trouxeram pelo ar
como uma brisa conhecida

O que ela causou
surgiu em rasgos de desejo
sentindo a perda dos sentidos

Me levou pelo braço
por onde nem sei
em passos de um coração
Machucado e terno

Dor e prazer
restaram
naquele canto
Pranto de mar calado
e reza
aos ben-malditos
santos do amor

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

distribuidora de choques


Ela esconde nos traços sutis
A fúria desgarrada dos insanos
A cada refugo do diálogo
Se entreve a dor
Dos dias passados

Veste as maças do rosto
De carmim degradee
despindo-se
No pescoço cálido
guardião dos soluços inaudíveis
que se propagam para o colo

Autêntica
Pois é o que tem
Não sabe ser de outra forma
Não sabe o que é o medo
Pelo menos quando não o teme

Mas o que sobrou?
Se ela se foi
Mas ainda está
Aqui

Ela pinta os lábios de noite
E as palavras soam mais sanguíneas
Arrasatando o tédio
na esteira
dos felizes incuráveis