Seu tênis ainda era furado, de tanto manobrar o skate. Os pés eram outros: maiores, com formas mais definidas e mais calejados. Pensou que deveria ter o skate nessa hora, pra sair deslizando no manso asfalto, rasgar sua superfície e ir direto em slides inetrmináveis ladera abaixo. Mas seus pés eram sua casa nesse momento. Queria transpor o tempo, ocupar o espaço, dissolver-se na fumaça invisível e se tornar o próprio ser urbano, humano e divino. Essa era sua hora, 19 hrs, lua cheia, bares cheios. Gritos, reavivando a vida, olhares cúmplices, palavras conjuntas. Nesse solo sabia caminhar, rodopiar e manobrar seus receios. Lembranças tantas que não se apagam, que se esquecem no calor da fala, mas as compõem ao mesmo tempo. Não queria esquecer Marcelo que seu elo com a vida se iniciou como um solo de cello, vindo da ampla gravidade para a mais doce melodia. Queria saber quem era, pra poder saber o que se é, o que não se deve perder.
Marcelo chega na roda de amigos:
- Ohhh muleque, demorô nessa caminha da hein! Chega junto que o Dinho ta contando uma história...
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