quinta-feira, 28 de junho de 2012

em noites assim

ó o silêncio dessa tarde
as pessoas mudas escoando pelos cantos
em curto circuitos de finalidades

afasto os pés dos percalços íngrimes
lembrando algo que me foi dito
inspira, expira, aspira
e recorre ao seu canto

deixa o sol cair de cara
e queimar os restos frescos
do dia

ó, que a lua vem hoje
alento daquele que nutre
no breu, um eu aposto

explica o que desconhece

deixo em suas mãos
o poder de nomear

ao menos, o oposto
deixe-o exposto
e defina por negação

seu canto, seu encosto
te espera desde ontem
mas, ó, seu rosto
nesta noite
está especialmente
fosco
pelo luar

segunda-feira, 25 de junho de 2012

desacordado

Uma longa despedida
de um dia
de uma vida

Sonhos vêm e vão
mas há noites em que eles não aparecem
Caminham por outras cercanias
revelando outros sonhos mais a terceiros

caminho
transpor as ruas desacordado
num desamor de coração triste
cambaleante

a ponte sobre a barricada de senões
desemboca no seio cheio
de fastio

o desencontro desta noite
tremula aos olhos serenos
dos coiotes que rondam os bueiros 

e, dor, é de se perceber
credor de sua conta
que hoje

só amanhã

sexta-feira, 15 de junho de 2012

fios de hoje


Descontinuidades
Descobrir continuidades
Dentro do útero férreo
De uma cidade destronada de glamour

Dos tempos áureos
Restou o luxo de sobreviver
Sorver entre dentes
o ar cotidiano repleto de calor
dos pulmões ao redor

O relincho da composição
remexe como cerdas os ocupantes.
Estremeceu as cabeças soltas
balaio de divagações

Crivo meu olhos na janela,
para  acompanhar as curvas dos fios de tensão
provavelmente na desinteressada intenção
de chegar a algum lugar

sábado, 2 de junho de 2012

dantes de tudo


esperei no canto
olhos de olho nos efeitos do vento
escolhi esse espaço
para esperar

difícil explicar o que exatamente
godot, sabemos que ele não vem
mas um outro alguém
sempre pode aparecer

um próximo toque
um desvio inesperado
um estampido de baque
inviolável

esperei uns segundos
7 anos e três dias
enquanto isso
deixei uma lágrima acumlada
no canto esquerdo do olho

o tempo de sua queda
foi o instante
que o esperado
mostrou-se ali
onde já estava
antes

Foto retirada do blog http://blogdamartabellini.blogspot.com.br/