segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
mácula
de gosto amarrado
espuma em suas veias asfalto
costuma mastigar sonhos
frescos ou antigos
parque de diversos(as)
rios sólidos empurrados pelos ares
produção ininterrupta nos bares
sinto-me como célula sua
uma partícula alcalina, alcolizada
norteada pela desordem instalada
poisons em forma de sons
monstrofagia sinestésica
procurando achados
vivo em seu encalço
no calor de uma noite
ao encontro de outra partícula
num enlace de mácula sanguínea
espiritualmente orgânico
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Desmanche
um passo, um meio ato
uma nota, um relato
inesperado é seu olhar
descamba o meu escudo
desata o meu destrato
paisagem sem passagem
janela de minha calma
sorrio e levito
desisto do resistir
indivisível
acalanto
domingo, 5 de outubro de 2008
adaga
puro invólucro guiado a lucro
chamaria-se pessoa
se vislumbrasse além do eu
o não saber alimenta a dor
no outro..
finge com autonomia
disfarça com maestria
esconde-esconde barato
sai caro pra quem joga o jogo
súplicas inutilmente se decompõem
até o dia que o o outro as esquece
ignora o remetente egoinflado
não mais será ferido
por aquela falsa adaga
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Como La Cigarra
María Elena Walsh
Compositor: María Elena Walsh
Tantas veces me mataron,
tantas veces me morí,
sin embargo estoy aqui
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal
porque me mató tan mal,
y seguí cantando.
Cantando al sol como la cigarra
después de un año bajo la tierra,
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.
Tantas veces me borraron,
tantas desaparecí,
a mi propio entierro fui
sola y llorando.
Hice un nudo en el pañuelo
pero me olvidé después
que no era la única vez,
y volví cantando.
Tantas veces te mataron,
tantas resucitarás,
tantas noches pasarás
desesperando.
A la hora del naufragio
y la de la oscuridad
alguien te rescatará
para ir cantando.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
espe(o)lho
humildade de sentir
sem idade ou cartão postal
arrefecer os ânimos
aquietar eventuais maremotos internos
essencial
uma vez alguém disse..
domingo, 28 de setembro de 2008
claos
rastros de poeira cósmica se espalham
arrasto meu tato
num maltrato de tamanha tanta
sua alma canta em silêncio
deixando meu ar denso
respiro os resquícios desse brilho insensato
corpo mágico que me inspira
desasossega e me cega
o sangue varre em vaivém
e o coração dá um nó
sem chave, sem clave
terça-feira, 9 de setembro de 2008
antes do porvir
existe desde antes
insiste em crescer
sem conhecer o porvir
o inocente sente que a domina
julga sobrevoar ileso
preso ao vento que o envolve
crê transpor os ares
mares, lugares e vulcões
trovões, dragões dos fogos mais pelantes
uma pipa não voa sem linha
a pássaro não plana sem ninho
homem feito chora feito menino
se no caminho força fraqueja
na peleja com os ventos
tem sorte aquele que no peito
traz seu eu anterior
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
sensono
contrato atado em meu corpo
escopo instaurado em vontade
hoje não tenho pressa em proibir o sentido
inverso ao universo sideral
contrasenso que se aconchega
sólida multidão
sussurre ou cante baixo
o bicho dorme..
domingo, 10 de agosto de 2008
Lugaralém
onde o peito se esfarela em pétalas finas
lugar da morada do sol quando cai
onde a vida é a cura
pensamentos se fundem, corpos se unem
a procura não se aventura
tudo ao alcance
girassóis e caracóis
somente de relance o instante foge
não mais preciso de forma
fôrma sorumbática matematicamente estática
o vento me informa da terra
e o flutuar nunca foi tão presente
sábado, 26 de julho de 2008
descarrego
trancado no ar, gasoso em grossas veias
assalto no ato os limites
o rústico muro que me precede
não mais me castiga
instiga ao mortal, animal
flutuações da carne e pele
em um espiritual espiral
nada me carrega
leve levitação ritmada
arremessada do nada
rumo ao pleno significado
terça-feira, 22 de julho de 2008
broto
como um milagre
surge um som
uma raiz virgem
choro da origem
ecoando nos anos a frente
a terra porosa se abre
na passagem da lua nova
renova o ciclo
se faz necessário o cuidado
não aprendido, surgido
caminho sem volta
amor
segunda-feira, 21 de julho de 2008
re - cále - se
viagem sem volta ao início constante
instante imediato no passado
presenças múltiplas no arco do tempo
presente insano que me faz lembrar o futuro
fruto imaturo do puro momento
esbravejo os braços em falas
fio de insenso incendiado
senso comum comprado a bala
consentimento arrastado à vala
cada poro por si
e um corpo a todos
querem-se sangue
líquido tragi-mágico
afogador de palavras, mas
engolir vidas engasga..
sábado, 12 de julho de 2008
perguntas..
se posso ver o que não é visto
se no mundo mudo o segundo
se quero estar ou ir, chorar ou rir
onde esta o começo, se não sei o meio
se o se não fosse se, e fosse é
se a sorte vem do acaso
se a vida é minha ou de outro
se o sopro da dor me gela
se me calo ou falo
se o amor é dor ou mel
Digo, descubra!
tarde da noite
noite de insonia, madruga na lua
na rua nuvens a me espreitar
concretamente sigo ao alvorecer
abraço o oco peito do louco
piso descaradamente em seus sonhos
queimo meus olhos no asfalto
tiro minha roupa pouca
minha pele e meus nervos
nem ossos resta pra contar
e quem viu o pulo?
cheio e embriagado
pro desagrado
esntendido o coração
movido ao sol que ali logo surge...
sexta-feira, 11 de julho de 2008
com junto..
qual raiz persiste sólida ao golpe de uma lâmina?
a mente não subsiste sem o corpo
e a pessoa não vive sem outra...
todos os verbos só conjuga o conjunto
e no mundo ser é estar junto...
seja quem for
seja como for
seja como seja..
segunda-feira, 7 de julho de 2008
té veno, não tem cor..
cor não tem pele
neve carvão
minha cara meu irmão
meu pé contramão
meu cabelo minha raiz
quem sabe mais
quem fala menos
o meu corpo meu terreno
meu espírito né pequeno
minha alma incolor
minha palavra é minha dor
minha voz o meu aceno
quinta-feira, 22 de maio de 2008
em qulquer lugar!
que seque, feria angola
sequela
Como diz Racionais Mc's: "Periferia é Periferia, em qualquer lugar" ..em qualquer tempo..
começando as atividades nesse espaço..vai dois poemas de mestres angolanos..
Antônio Jacinto
Monagamba
Naquela roça que não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado,
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado!
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem trás pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de déndén?
Quem capina e em paga recebe desdém
fubá podre, peixe podre,
panos ruins, cinqüenta angolares
porrada se refilares?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
— Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter a barriga grande — ter dinheiro?
— Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
— Monangambéée...
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
— Monangambéée...
Noite Eu vivo Vou pelas ruas São bairos de escravos Onde as vontades se diluíram Ando aos trambolhões Também a noite é escura. |
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terça-feira, 20 de maio de 2008
cade o doce?
caldo cana vai saindo o melado
minha alma não vendo nem fiado
mal pago pagado pagão é meu sermão
deitado na rua no asfalto ainda quente
do sol da chuva babilônia dormente
sem freios receios não creio no seu jogo
sem rosto um fosso amargo cresce o lodo
goroto meninu piá já tá sabendo
que o troco num é barato,
a dureza é de graça
e o doce...
vem na marra!
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Terremoto.....
de dia acordei dormindo na fenda
desse diário terromoto que não move nada
mudar!